Além da baixa representatividade nas gerências das federações esportivas, a carreira das atletas passa por obstáculos financeiros. O suor para estar em competições nacionais e internacionais de alto nível é o mesmo para homens e mulheres, mas não raramente as recompensas são menores para elas. Em um caso que ganhou destaque recentemente, o time brasileiro vencedor da Liga Mundial de vôlei feminino de 2016 levou pra casa um cheque de 200 mil dólares, valor cinco vezes inferior ao recebido pelo primeiro lugar da Liga Mundial masculina. Em entrevista ao Gênero e Número, a oposta Sheilla Castro, bicampeã olímpica e integrante da atual equipe de vôlei campeã, critica a diferença entre as premiações. “Muito discrepantes os prêmios no masculino e feminino. Nunca formalizamos nenhuma reclamação, mas já conversamos com o Ary [Graça, atual presidente da Federação Internacional de Vôlei], quando ele era presidente da CBV”, disse a jogadora. A diferença de remuneração é ainda mais notória quando se olha para o prêmio em dinheiro oferecido pela FIFA, órgão de gestão do futebol no mundo que apenas em 2013 teve a primeira mulher em seu comitê executivo, a burundesa Lydia Nsekera. Enquanto a equipe feminina dos EUA ganhou US$ 2 milhões da organização por vencer a Copa do Mundo do ano passado, a seleção masculina alemã arrecadou US$ 35 milhões após ser campeã da Copa do Mundo de 2014.
Se o prêmio fosse dividido pelos jogadores em campo, a receita das americanas não chegaria a US$ 200 mil por atleta, enquanto os alemães embolsariam mais de US$3 milhões individualmente. Sheilla afirma que a justificativa dada para a disparidade é a diferença de patrocinadores, o que impactaria no valor que entra. “Se é ou não verdade, eu não sei”, disse. As contas bancárias dos atletas refletem essa diferença. Na última classificação divulgada pela Forbes, entre os cem atletas mais bem pagos do mundo há apenas duas mulheres: as tenistas Serena Williams, que recebe US$ 28,9 milhões, e Maria Sharapova, com US$ 21,9 milhões por ano, respectivamente 40º e 88º no ranking. Valores altos, mas nem metade do que recebe a estrela masculina do tênis Roger Federer, US$ 67 milhões. Se no tênis, um dos esportes mais equânimes em termos de gênero, onde todos os principais torneios oferecem prêmios idênticos nas disputas femininas e masculinas, a diferença de salários e patrocínios dos primeiros do ranking ainda é considerável, no futebol ela atinge seu ápice. Neymar e Marta são dois expoentes dessa a paixão nacional, e estarão em campo na disputa pelo ouro olímpico. Ela já foi eleita cinco vezes melhor jogadora do mundo pela Fifa e marcou 103 gols com a camisa da seleção. Ele conquistou o terceiro lugar na última votação para melhor do mundo, e chegou a 50 gols defendendo o Brasil. Mas é na conta bancária que a diferença entre os dois se sobressai: Marta recebe de salário anual US$400 mil contra US$14,5 milhões de Neymar, de acordo com a Forbes. Se fossem pagos por gols, cada bola na rede da Marta valeria cerca de US$3,9 mil (cerca de R$12,2 mil), enquanto as do Neymar valeriam US$290 mil (cerca de R$905 mil). Pode ser moralmente escandaloso que Marta receba tão menos que Neymar? Em um mercado movido a patrocínios, tudo parece justificável. As receitas patrocinadas da Copa do Mundo masculina chegaram a US$ 529 milhões. No mundial feminino, US$ 17 milhões de investimentos privados. Visibilidade e popularidade são palavras-chave para entender por que os esportes femininos atraem menos patrocínios. “A mídia dá pouca visibilidade às conquistas das mulheres, aos campeonatos das mulheres”, explica Silvana Goellner, professora da Escola de Educação Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e especialista em questões de gênero no esporte. “A mídia produz muito a representação do esporte para os homens, então como vamos tê-las como inspiração?”, questiona Silvana. Os acordos de transmissão e direitos televisivos exercem uma poderosa influência nos negócios esportivos. A popularidade dos jogos, com o comparecimento aos estádios para ver as equipes femininas, também afeta diretamente a receita dos campeonatos e o interesse das emissoras. Quanto menos pessoas prestigiam as atletas, menos elas são noticiadas e televisionadas. Quanto menos são noticiadas e televisionadas, menos pessoas têm o interesse despertado e as prestigiam. Um círculo vicioso que explica em grande parte a batalha para equalizar economicamente as competições feminina e masculina. Texto: Revista Gênero e Número.