Quando Luiz Gonzaga compôs, em parceria com Zé Marcolino, a música Numa sala de reboco (1965), os pais de Pedro Lucas Feitosa ainda nem se conheciam. Cinco décadas após o lançamento, a canção precisou ser executada apenas uma vez para inspirar o menino de 10 anos a homenagear o Rei do Baião. Decidido, a partir daquele momento, a divulgar a obra do artista, o cearense caminhou até a casa de cimento aparente onde mora o avô e pediu o objeto mais antigo que ele tivesse entre os pertences. Foi assim que uma máquina de costura se tornou o primeiro objeto exposto no Museu de Luiz Gonzaga. Montado na casa da bisavó de Pedro, o projeto se destaca entre as construções simples localizadas na rua Alto da Antena, em Dom Quintino, no Crato (CE). Na entrada, uma placa apoiada por tábuas de madeira identifica o local. Quem se interessar em visitar o acervo, será gentilmente guiado pelo criador, que divide a rotina entre a escola e a “administração” do espaço. “Tem dia que só tenho aula de manhã, aí meu pai toma conta e faz as explicações para as pessoas. No turno da tarde, eu explico. Acho que eu faço isso melhor do que ele”. À noite, ele puxa uma extensão da casa para iluminar o espaço. Por enquanto, o museu é composto por elementos que pareçam ser da época em que viveu o compositor de Assum preto. Ciente da história de Luiz Gonzaga, o cearense escolheu a data de aniversário do músico, 13 de dezembro, em 2015, para iniciar as atividades do museu. O trabalho do artista, lembra, ele conheceu com ajuda de uma professora. “Cheguei na escola cantando Asa Branca, mas não sabia a letra toda. Minha professora me ajudou. Depois, minha tia me deu um MP3 com músicas dele, e eu gostei muito”. Os amigos de turma parecem não ter compartilhado o mesmo interesse: “Eles dizem que Luiz Gonzaga tem música chata, de velho. Eu digo ‘música chata é funk'”.
Apesar de a música Numa sala de reboco ter servido como inspiração, o menino faz questão de destacar que a vontade de criar um centro em memória do Rei do Baião nasceu há dois anos. Caminhando pelo Museu do Gonzagão, em Exu, cidade natal do músico, Pedro começou a imaginar como seria se ele pudesse ter algo parecido na rua onde mora: “Não tinha nada daquele jeito por aqui”. O presidente da Organização não governamental Parque Aza Branca, responsável pelo centro, Júnior Parente, se orgulha pela contribuição: “Fico feliz em saber dessa história. Isso significa que Luiz Gonzaga continua vivo ao ponto de um menino de 10 anos ter despertado o interesse em criar um pequeno museu em homenagem ao Rei do Baião”. Aos poucos, a ideia tem atraído doações. Hoje, o projeto soma mais de 100 objetos, entre sandálias de couro, livrinhos de cordel e cuias. Na ‘gerência”, Kaio Everton, de 7 anos, primo de Pedro. Entre as pessoas que decidiram ajudar o cearense, está a professora universitária e pesquisadora Simone Ventura. “Desde que conheci a história, me senti na obrigação de ajudar. Ele é uma criança do interior e não tem acesso a muitas coisas, mas, mesmo assim, decidiu fazer um museu com o que tinha. Decidi falar com meus alunos que tinham produzido um radiodocumentário sobre Luiz Gonzaga e eles autorizaram que eu enviasse para o Ceará”, comenta. Além da pernambucana, o sobrinho do Rei do Baião, Joquinha Gonzaga, também demonstrou interesse pela causa. “Ele me ligou e disse que queria visitar o museu e que tinha gostado da ideia. Acho que chega na próxima semana”, conta Pedro Lucas Feitosa, que acumula quase 800 incentivadores na página criada para o museu no Facebook.