O consumo de alimentos com amido resistente, como aveia, ervilha, feijão e banana verde (não madura), pode ajudar a prevenir diferentes tipos de câncer, entre eles de estômago, trato biliar, pâncreas e duodeno, segundo uma pesquisa conduzida por cientistas das universidades de Newcastle e Leeds, no Reino Unido.
Publicado nesta terça-feira (26) na revista científica Cancer Prevention Research, o estudo integra uma iniciativa internacional de acompanhamento de pacientes com Síndrome de Lynch, doença hereditária que aumenta as chances de desenvolvimento de tumores no trato gastrointestinal e em áreas como endométrio e ovários.
Na primeira fase do projeto, os pesquisadores analisaram os efeitos do uso de aspirina e, na segunda etapa, voltaram sua atenção para a ingestão de amido resistente, tipo de carboidrato que fermenta no intestino grosso, alimentando bactérias benéficas ao organismo.
No estudo, o grupo de 463 pessoas que recebeu um suplemento diário de 30 gramas de amido resistente em pó por até quatro anos apresentou menos casos de câncer no trato gastrointestinal superior do que o conjunto de 455 voluntários que consumiu placebo. Foram 5 diagnósticos contra 21 no decorrer ao longo de até 20 anos, resultado que surpreendeu os pesquisadores.
Os autores afirmam que são necessários mais estudos para explicar os efeitos do amido resistente, mas sinalizam que a resposta pode englobar a atuação desse tipo de carboidrato na microbiota intestinal.
O amido resistente, também conhecido como fibra fermentável, favorece as células do cólon e ajuda a reduzir o pH dessa região. “O ambiente mais ácido, por sua vez, pode dificultar a proliferação de células cancerígenas no intestino”, pondera o médico Durval Ribas Filho, presidente da Abran (Associação Brasileira de Nutrologia).
De acordo com os cientistas ingleses, a descoberta tem implicações importantes para o cuidado de pacientes com Síndrome de Lynch porque tumores no trato gastrointestinal superior são difíceis de identificar e muitas vezes são descobertos tardiamente, contribuindo para maiores taxas de mortalidade. Apenas no Brasil, de acordo com o Inca (Instituto Nacional de Câncer), os casos de câncer de estômago e de pâncreas são responsáveis por mais de 25,7 mil mortes por ano.
“É um novo estudo que vem reforçar a importância da dieta”, comenta Ribas Filho. Ele lembra que pesquisas anteriores, como as do Projeto Hale, já indicaram um impacto significativo da ingestão de nutrientes na prevenção ao câncer e diz que a nova publicação pode servir de referência nos consultórios.
“A orientação para a ingestão de aveia, ervilha, banana, batata, feijão, batata doce, ou seja, de alimentos que têm perfil nutricional mais adequado na produção das ‘bactérias do bem’ já existe, mas cada vez que sai um estudo essa recomendação ganha força. É uma intervenção nutricional preventiva”, afirma.
O médico aponta ainda que a nova pesquisa surge em um contexto de maior interesse pelo chamado sistema nervoso entérico e sua relação com a microbiota e com o sistema imune na regulação do organismo, corroborando com a importância de se entender esse conjunto.
“Hipócrates já dizia que todas as doenças começam no intestino. Isso tem tudo a ver com a microbiota intestinal, com a proliferação das chamadas ‘bactérias do bem’. Em tese, o problema então é o velho ditado ‘você é o que você come’, ou como gostam de dizer os nutrólogos, ‘quem quer que seja o pai de uma doença, a mãe foi uma dieta deficiente'”.