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Aline Barr brilha ao desvendar afinidades e pérolas de Gilberto Gil e Moraes Moreira

28 janeiro 2021 | 7:44

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Em 2003, quando o Brasil já não prestava a devida atenção nos discos de Antonio Carlos Moraes Pires (8 de julho de 1947 – 13 de abril de 2020), o Moraes Moreira, este eterno novo baiano lançou joia da canção popular no álbum intitulado justamente Meu nome é Brasil.

Balada até então esquecida neste disco de 2003, Minha pérola reluz com brilho (ainda) maior do que o do obscuro registro original do autor na gravação que abre o primeiro álbum de Aline Barr, Gil Moreira, no mercado fonográfico a partir de sexta-feira, 29 de janeiro, em edição da gravadora Joia Moderna.

Em gravação embasada pelo toque de um piano, a beleza melódica da canção e o lirismo poético popular dos versos flutuam nas águas claras da voz dessa cantora e compositora baiana nascida Aline Barretto em Salvador (BA).

Na sequência das dez faixas, o disco reapresenta outra balada, Seu olhar, esta da lavra de outro baiano, Gilberto Passos Gil Moreira. Reposto em foco com o toque percussivo de cajón, Seu olhar é de 1985, dos tempos em que Gil frequentava as FMs com músicas de bom acabamento pop.

Sim, a bossa do álbum Gil Moreira é desvendar e aclarar afinidades e pérolas de Gilberto Gil e Moraes Moreira – compositores que, com a régua e o compasso dados pela Bahia de muitos santos, construíram as próprias nações musicais, sob as benções de João Gilberto (1931 – 2019) e Luiz Gonzaga (1912 – 1989), padroeiros da música do Brasil.

A ideia de entrelaçar composições de Gil e Moreira foi do DJ Zé Pedro, em cujo Karaokê da Veia Aline Barr deu as caras em 2020 para cantar Índigo blue (Gilberto Gil, 1984), música ajustada ao figurino pop usado por Gil na década de 1980.

Remodelada por Aline com o mix da voz da cantora com o estalar de dedos e com os graves das batidas no peito, em gravação em que o corpo é feito de instrumento de percussão, Índigo blue é uma das dez músicas que compõem o repertório surpreendente do álbum gravado e produzido por Aline Barr com o baiano Fábio Alcântara.

A abordagem de Bateu no paladar (Moraes Moreira, Zeca Barreto e Fausto Nilo, 1981) tem o sabor íntimo do álbum Gil Moreira. Música lançada por Moraes em EP carnavalesco, lançado em 1982 para animar a folia de 1983, De noite e de dia – parceria do baiano com o poeta e letrista cearense Fausto Nilo – é tirada por Aline Barr da rota dos trios elétricos em gravação que reitera o apego do disco às melodias e poesias.

Já originalmente aclimatada pelo autor Gilberto Gil na ambiência serena do álbum de Aline Barr, Quatro coisas é balada amorosa lançada por Gil no álbum ao vivo e DVD Bandadois (2009). Pelo toque do violoncelo, o registro de Aline se aproxima mais da regravação feita por Gil em outra gravação ao vivo lançada em 2012.

Na costura do álbum Gil Moreira, Quatro coisas dialoga com Prece (2018), canção em que Gil faz fervorosa declaração de amor à mulher, Flora Gil.

Raridade do cancioneiro de Moraes Moreira, Esplendor é parceria do compositor com Ari Morais até então gravada somente pela cantora Cibelle Cavalli no álbum The shire of dried electric leaves (2006). Nem Moraes a gravou.

Embora menos imponente no confronto com as outras músicas do disco, assim como a pouco sedutora Menina do sonho (Gilberto Gil, 1982), Esplendor reforça a intenção de impedir que o álbum Gil Moreira se tornasse óbvio greatest hits dos compositores. Em bom português: Aline Barr não fez disco de cover para virar trilhar de karaokê ou de barzinho.

Decote pronunciado (1982) – música de Moraes Moraes e Pepeu Gomes com letra do poeta Paulo Leminski (1944 – 1989) – deixa entrever o suingue do canto de Aline Barr em gravação levada no violão.

É outra joia de disco que poderá dar visibilidade e prestígio a essa cantora que se incumbiu com brilho e com inteligência da ideia de pescar pérolas raras nos baús ainda inexplorados de Gil e de Moreira. Fonte: G1 Globo.