Desde sempre, ouve-se a predição: o “Brasil é o país do futuro”; nada temos a temer. Mas, a história é construída pelos homens e pelas relações que estabelecem entre si e com a natureza no processo de produção de riquezas. Em outras palavras, o modelo de “intervenção” produtiva pode ser eficaz, a partir de escolhas certas e eficientes, ou desastrosas, se amparada em decisões/escolhas erráticas, inconsistentes. Esse é o caso do Brasil atual. Perdemos ‘janelas de oportunidades’ seja por erro de avaliação, políticas equivocadas ou decisões insanas. Mas, o Brasil, há muito deixou de ser ‘o país do futuro’. Vivemos uma profunda crise institucional, política, econômica, moral, ética, e tantos outros qualificativos que a queiram nominar. Estamos a um passo do abismo e continuamos a caminhar nesse rumo. Após o governo enviar ao Congresso Nacional o projeto do orçamento para o ano de 2016, com previsão de déficit primário da ordem de 0,34% do PIB (30,5 bilhões) em lugar do superávit de 0,7% estimado anteriormente, a agência de classificação de risco Standard & Poor’s retirou o grau de investimento do Brasil (uma espécie de selo de bom pagador). Para essa agência, incontáveis desafios políticos pesam sobre a capacidade do governo de apresentar um orçamento com sinalização de correção, no início do ano. Embora a crise política seja um ingrediente básico, a crise fiscal e a falta de perspectiva de melhoria das contas públicas, bem como o quadro de recessão econômica, foram fatores preponderantes que fundamentaram a decisão de mostrar que, na verdade, “o rei está nu”.
Há sete anos, o governo comemorava a recuperação do grau de investimento; depois de loas e aplausos, hoje se ressente do prazo médio de 7,2 anos para recuperar a posição relativa pela qual lutou mais de dez anos para conquistar. Acrescente-se ainda o fato de que no dia 10 de outubro, a Standard & Poor’s cortou as notas de crédito de 31 empresas brasileiras e definiu em ‘situação de risco’ 13 bancos brasileiros (dentre eles os maiores do país, como Banco do Brasil, Itaú, Unibanco e Bradesco) tendo em vista a probabilidade de inadimplência dessas instituições, sendo que 11 também perderam o grau de investimento. Outras mazelas completam esse triste quadro: suborno, corrupção, sonegação fiscal, contrabando, tráfico de influência, compra de votos, falências fraudulentas, enriquecimento ilícito, desvio de verbas, improbidade administrativa, autofavorecimento, pagamento de propinas, simulações, e tantas outras falcatruas que fariam corar o mais esperto dos bandidos… Os brasileiros estão vivendo uma situação de extrema gravidade, cuja extensão jamais foi registrada, antes, nesse país, cujo fardo se tornou insuportável para todos, exceto para aqueles que se locupletaram e se enriqueceram com astúcia, mantendo-se ainda numa zona cinzenta, que a justiça (ainda) não conseguiu alcançar. Do ponto de vista econômico, os efeitos da corrupção são devastadores para um país. Dentre outros problemas, geram incertezas nos agentes econômicos, reduzindo os investimentos, provocando distorção nos gastos públicos, favorecendo os cartéis e as grandes corporações que têm meios de absorver os “gastos indiretos” com propinas pagas a políticos, legisladores, funcionários etc. De acordo com o Banco Mundial, se os índices de corrupção no Brasil fossem reduzidos à metade, a desigualdade na distribuição da renda sofreria uma redução de 54%; a mortalidade infantil cairia 51% e a população que vive com menos de 2 dólares/dia apresentaria uma queda de 45%. Mas, nada mudou. O Brasil ainda continua atolado num mar de corrupção. Pobre País do futuro.
por Zenólia M. de Almeida. Doutoranda em Gestão. Diretora da Faculdade de Administração de Governador Valadares. Membro da Academia Valadarense de Letras.