por Fernando Duarte
A campanha eleitoral da Bahia chega a um momento crucial, ainda que não tenha começado oficialmente. A passagem dos candidatos pelos festejos juninos vão servir de termômetro para a receptividade dos eleitores – e isso é válido não apenas para a corrida pelo governo do estado. Após dois anos sem as comemorações dos santos Antônio, João e Pedro, os políticos vão pular fogueiras para testar se tem relação com a população ou não. Por isso, vai ser comum ver imagens deles nas redes sociais, com uma grande massa ao fundo, mesmo que ali não estejam apenas eleitores deles.
Há uma construção narrativa clara quando observamos os conteúdos destacados pelas assessorias, através da distribuição de material à imprensa ou por publicações nas redes sociais. Fulano foi responsável por levar recursos para o município A. Beltrano trouxe projetos para a cidade B. Ciclano transformou as áreas pelas quais foi responsável. É um mundo idílico, que conversa com a ansiedade do eleitor, principalmente aquele ávido por boas notícias em meio ao caos instalado desde o início da pandemia, em março de 2020.
O final de semana de Corpus Christi já foi sintomático de como vai acontecer o uso dos festejos juninos. Nele, o sagrado e o profano apareceram nos atos dos dois principais pré-candidatos ao governo, ACM Neto e Jerônimo Rodrigues. Os próximos dias serão marcados justamente por essa dicotomia para eles e para quem espera usar esse período para ser reconhecido pela população. Para a sorte desses candidatos, não é vetada a participação ou citação deles nas tradicionais festas do interior baiano. Isso explica o esforço em percorrer o interior como se não houvesse amanhã, mesmo que seja para um tchauzinho de miss seguido pelo pé na estrada para a próxima viagem.
Talvez a grande novidade de 2022 seja a tentativa de capitalizar politicamente os festejos juninos em Salvador. Até então, era o grupo político de ACM Neto a ser acusado de usar o artifício das festas para angariar apoio popular. A estratégia, todavia, não vai ser denunciada agora, visto que o governo de Rui Costa investiu pesado na mesma ideia, seja nos polos do interior, seja na capital baiana. Pelo menos, o chumbo é cruzado e não vai doer no lombo alheio. Resta saber o comportamento dos candidatos nesse novo viés da política do Palácio de Ondina.
Tenham a certeza de que todos os políticos vão tentar escapar de eventuais bombas que possam aparecer. Essa talvez seja a única tradição junina que não veremos por parte dos candidatos. Mas colocar o pé na estrada, pular a fogueira, dançar forró e beber licor são coisas que não vão faltar nos próximos dias – que vão se estender até o próximo teste de popularidade: o Dois de Julho.