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Crônica: As Carpideiras

22 maio 2016 | 0:16

por Valdir  Fachini

foto: Reprodução

foto: Reprodução

Não se falava de outra coisa na cidade se não na morte do coronel Deoclécio, até gente da cidade vizinha veio pro velório, Conhecido feito ele só ,todo mundo queria dar o último adeus, jogar uma flor e um punhado de terra na sua derradeira morada. Seu irmão Deocleciano viajou mais de quinhentos quilômetros pra assistir ao funeral e aproveitou pra ver se a cunhada ainda estava enxutona… tava não,ainda depois do passamento do marido, tava de dar dó.,Enquanto as empregadas serviam café com bolo pras visitas as carpideiras choravam.

A irmã mais nova do cadáver, a Deocleidiane se encarregava de contar as façanhas do morto (quando era vivo ) pra ela, ele era um herói, mentiroso feito o cão, mesmo assim ela o idolatrava, dizia que ele mereceu tudo de bom que ele teve enquanto vivia e com certeza la no céu, que é pra onde ele vai, irá encontrar o paraíso que ele tem direito e a contratação das carpideiras foi uma homenagem pra la de merecida e as carpideiras choravam.  O prefeito e sua comitiva não podiam faltar, cumprimentou todo mundo, pegou criança melequenta no colo, rezou um Pai Nosso e uma Ave Maria, tentou cantar o Hino Nacional mas se atrapalhou mais que a Vanusa e disse que foi a emoção, depois pediu votos pra próxima eleição que já era no ano vindouro.  O médico da família se desculpava dizendo que cansava de falar pro velado trabalhar menos e se cuidar mais, comer na hora certa, tomar menos conhaque, mas ele era teimoso igual uma mula, deu no que deu.  A viúva chorava, soluçava, lamentava e ficava pensando que precisava agradecer a quem tinha contratado as carpideiras, saber quanto elas cobraram pra depois reembolsar. E as carpideiras choravam. Rex, Maradona e Tarzan, os rottweilers do morto não puderam entrar na casa, por isso ficaram no quintal uivando, ninguém falou nada pra eles mas eles sabiam que algo de ruim tinha acontecido. Então chegou a hora de ir pro campo santo, a procissão era enorme, da casa até lá a distância era grande, a caminhada era longa,mas ninguém se cansava, os homens revesavam pra levar o caixão, seis alças que iam passando de mão em mão, as mulheres cantando A-VE-A-VE-A-VE AVE MARIA,A-VE-A-VE -A-VE AVE MARIA e no meio delas, as carpideiras chorando. Depois de um longo discurso o padre encomendou a alma do defunto e os coveiros desceram a esquife pra sua última morada. Então as pessoas foram se despedindo dizendo palavras de conforto e consolo e indo cada um pra sua casa. Ficando a viúva sozinha com as choronas, não resistiu e perguntou qual foi a alma bondosa que tinha contratado elas, então uma das quatro falou …nós não somos carpideiras, nós éramos manteúdas do falecido.

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