Há sete anos o Brasil acompanhou de perto a investigação de um crime que chocou a sociedade: o sequestro e assassinato de Eliza Sumudio, ex-namorada e mãe do filho do goleiro. Bruno foi condenado, em 2010, a 22 anos de prisão, após confessar que sabia que Eliza havia sido estrangulada e que seus restos mortais foram jogados para os cachorros. No entanto, após seis anos de prisão, o goleiro recebeu liberdade condicional pela justiça e já se prepara para voltar aos gramados, sendo contratado pelo Boa Esporte, time da segunda divisão da cidade de Varginha, em Minas Gerais. Sônia Moura, mãe de Eliza Samudio, revelou em estrevista à BBC Brasil que vive “um luto diário” sem ter o corpo da sua filha e teme o dia em que Bruninho, seu neto, perguntar sobre a morte da mãe: “Tenho medo da revolta dele, do sofrimento dele. Se pudesse carregar essa carga toda, de sofrimento, de dor, se tivesse uma maneira de amenizar a dor dele que ele vai ter no futuro, daria minha vida por isso.
Confira os principais trechos da entrevista de Sônia Moura à BBC Brasil:
BBC Brasil – Como a senhora vê o retorno de Bruno ao futebol?
Sônia Moura – É revoltante vê-lo levando a vida dele como se nada tivesse acontecido. É um mau exemplo, um mau exemplo para a sociedade.
BBC Brasil – Você esperava que ele saísse da prisão tão cedo (Bruno foi condenado a 22 anos de prisão, mas foi solto provisoriamente por decisão do STF porque seu recurso ainda não foi julgado)?
Sônia Moura – Não. Ele saiu sorrindo, dando risada, dando risada da cara da sociedade, dando risada da Justiça. Quem não vê que ele é um homem dissimulado?
Ele é totalmente frio. Se a minha filha enfrentou todo o tipo de violência com meu neto no colo, o que esse homem hoje não seria capaz de fazer? Ele vai terminar o que ele fez lá atrás. Ele fica solto e eu fico presa com meu neto. Quando a Justiça vai continuar com os olhos vendados? A Justiça está sendo injusta.
BBC Brasil – A senhora acredita que a memória de sua filha foi de certa forma esquecida?
Sônia Moura – Vivo um luto sem ter o corpo da minha filha. É um luto diário. Mas me preocupo muito com o Bruninho. Vai chegar um momento em que ele vai perguntar (sobre como a mãe morreu). E eu vou falar o quê? Não quero tirar a inocência dele. Ele só tem sete anos.
Ele sabe desde o começo que a mãe dele morreu quando ele era bebê. Vou tentar preservá-lo ao máximo. Tenho medo da revolta dele, do sofrimento dele. Se pudesse carregar essa carga toda, de sofrimento, de dor, se tivesse uma maneira de amenizar a dor dele que ele vai ter no futuro, daria minha vida por isso. Mas eu não tenho como. Eu sofro com isso também, não é só pela morte da minha filha.
BBC Brasil – Qual é a sua relação com o Bruno? Ele oferece algum tipo de ajuda financeira ao filho?
Sônia Moura – Nenhuma. Ao contrário do que a sociedade acha, ele não paga pensão. Desde que ela (Eliza) estava grávida, ele tentou matar o filho (Bruno é acusado de ter forçado Eliza a tomar abortivos para interromper a gravidez). Mas hoje ele vem se posando de pai protetor.
Enquanto eu viver e tiver força, do meu neto ele não chega perto. Ele tirou a minha filha de mim e do meu neto, mas o meu neto ele não vai tirar não.
BBC Brasil – Qual mensagem você enviaria aos fãs do Boa Esporte?
Sônia Moura – É triste ver uma pessoa que matou sua filha ter tantos seguidores. É um tapa na minha cara. Eles levariam os seus filhos para assistir a um jogo de futebol do Bruno? É esse o exemplo de futebol, de esportista que eles querem para os filhos deles?