O governo de Jair Bolsonaro utilizou verbas públicas de publicidade em sites de fake news, de jogo do bicho, outros infantis e ainda em russo no período da reforma da Previdência. Os recursos públicos também foram destinados em canal do YouTube que promove o presidente da República.
As informações são do jornal Folha de S.Paulo, a partir de planilhas enviadas pela Secretaria Especial de Comunicação da Presidência, por determinação da Controladoria-Geral da União. De acordo com os documentos, dos 20 canais de YouTube que mais veicularam anúncios da campanha, 14 são destinados ao público infantojuvenil, como o canal Turma da Mônica e Planeta Gêmeas.
Um canal que chama a atenção é o Get Movies, destinado ao público infantil e que tem todo seu conteúdo em russo. Foram 101,5 mil anúncios veiculados nesse canal. O site infantil Kids Fun está no topo da lista, com 469,7 mil anúncios.
Os espaços de anúncios foram comprados por agências de publicidade por meio do Google Adsense. Nesse processo, o anunciante pode selecionar que tipo de público atingir, quais palavras-chave devem ser vetadas, que sites evitar a partir do seu conteúdo – se infantil, político, de temática ilegal ou pornografia.
Ainda conforme reportagem da Folha, também recebem considerável quantidade de anúncios – mais de 319 mil inserções publicitárias – um site com resultados do jogo do bicho. A modalidade é ilegal no Brasil.
Sites de fake news e desinformação também receberam pelo menos 102,9 mil anúncios – como o Sempre Questione (66.431 anúncios) e o Diário do Brasil (36.551). Outro canal do YouTube que veiculou a campanha foi o Bolsonaro TV, dedicado ao presidente da República, além dos aplicativos Brazilian Trump, Top Bolsonaro Wallpapers e Presidente Jair Bolsonaro. O site do senador Flávio Bolsonaro, filho do presidente, também recebeu inserções publicitárias.
Repercussão
De acordo com a Folha de S.Paulo, as planilhas devem ser encaminhadas à CPMI das Fake News nos próximos dias. Embora não especifiquem o total gasto com os anúncios, a Secom havia anunciado em maio de 2019 que seriam gastos R$ 37 milhões em publicidade sobre a reforma da Previdência em televisão, internet, jornais, rádio, mídias sociais e painéis em aeroportos.
Especialistas ouvidos pela publicação afirmam que anunciar em sites dedicados ao próprio presidente fere o princípio da impessoalidade, da mesma forma que os anúncios em sites de fake news implica financiamento da produção de informações falsas. Por outro lado, usar espaços de sites de jogos de azar ilegais para inserir publicidades incorre em remuneração de atividades criminosas.
Em nota, a Secom afirmou que buscou-se perfis reconhecidos pelo Google como afins ao tema Previdência e correlações para o tema da campanha. A pasta alegou também que realizou comandos de bloqueio da entrega da publicidade em sites de conteúdos impróprios.
Já o Google, também em nota à Folha, disse que os anunciantes podem bloquear categorias de assuntos e sites específicos.