A Academia Brasileira de Letras (ABL) elegeu por unanimidade, na tarde desta quinta-feira (14), o escritor Ignácio de Loyola Brandão como o novo imortal da casa. Ele vai ocupar a cadeira 11, vaga desde a morte do sociólogo e cientista político Helio Jaguaribe, morto em setembro do ano passado.
“Ele é um escritor puro sangue, radical. Sua obra, consagrada no Brasil e no exterior, traz um misto de alta cultura e ironia, olhar incisivo e viés experimental”, afirmou em nota o presidente da Academia, Marco Lucchesi. Brandão é autor de “Zero” e um dos principais nomes da geração literária surgida nos anos 1960 e 1970.
Nascido em Araraquara, Brandão foi jornalista e começou sua carreira no Última Hora. Para o romance “Zero”, ele se inspirou em histórias que não saíram no jornal por conta da censura. O livro se tornou uma das principais obras brasileiras sobre a ditadura militar -foi lançado antes na Itália, em 1974, e só um ano depois no Brasil, onde foi logo censurado.
O autor, que é cronista no jornal O Estado de S. Paulo, publicou também obras como “Não Verás País Nenhum”, “Cabeças de Segunda-feira” e “O Anjo do Adeus”, entre outras. O nome do escritor uniu alas da ABL que costumam se interessar por candidaturas diferentes -é o caso da dos escritores e a chamada “ala dos notáveis”, formada por políticos, juristas e egressos de outros ofícios fora da literatura.
A candidatura também congregou apoiadores no Rio de Janeiro, onde vive a maior parte dos imortais, e de São Paulo, onde o autor teria apoio de nomes como Celso Lafer e Lygia Fagundes Telles. O candidato também escreveu a biografia da antropóloga Ruth Cardoso (1930-2008), mulher do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que é imortal.
Além disso, os últimos dois eleitos -o cineasta Cacá Diegues e o jurista Joaquim Falcão- não eram escritores, o que abriu espaço para o novo escolhido ser alguém que viesse da literatura.
Na prática, Brandão concorria como candidato único. O anúncio de que apresentaria sua candidatura afastou eventuais interessados de peso-com ele, disputava uma série de autores desconhecidos, que sempre surgem quando há uma vaga na instituição fundada por Machado de Assis.