Os impactos da possível redução da vazão do Rio São Francisco de 900 m³/s para 800 m³/s nos reservatórios de Sobradinho (no município de Remanso, a 719 km de Salvador) e Xingó (AL) foram discutidos em evento promovido, nesta quarta-feira, 9, no Hotel Catussaba, em Stella Maris. Dentre os principais prejuízos está a alteração na qualidade da água usada para abastecimento humano e animal. “O avanço da cunha salina [quando a água do mar invade o rio] que torna a água salobra. Isso aumenta com a redução da vazão. Sem contar a questão da navegação que já está afetada, como a pesca artesanal, a irrigação, além de aumentar o assoreamento e ser um problema para as companhias de abastecimento municipais e estaduais”, afirma o presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), Anivaldo Miranda- responsável pela gestão participativa das águas da bacia. “A redução também iria coincidir com a piracema, quando os peixes precisam de mais água para subir até a nascente e desovar”, lembra o presidente do CBHSF.
A preocupação ganha destaque com o registro do nível mais baixo de Sobradinho -o mais importante reservatório baiano do Rio São Francisco -, que chegou a registrar 1,1% de volume útil no início deste mês. O Lago de Sobradinho responde por 70% da energia transmitida para a região Nordeste. Para o engenheiro civil Rodolpho Ramina, consultor do CBHSF, há atraso na efetivação de ações. “Os critérios de operação do sistema elétrico precisam ser mudados diante da disponibilidade hídrica, além de investir em infraestrutura e controlar mais as licenças de retirada de água”. No próximo dia 15, uma reunião na Agência Nacional de Águas (ANA) irá definir sobre a redução da vazão publicada, por meio de resolução, na edição do Diário Oficial da União do dia 1º deste mês. A redução deve começar a partir do dia 20. “Ainda estamos esperando considerações da ANA e do Ibama”, disse o superintendente de operações da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf), Ruy Barbosa Pinto Júnior. Com a redução o nível médio de Sobradinho até Itaparica deve ficar em 15cm e 20cm do Xingó até a foz do rio.
Para o presidente da ANA, Vicente Andreu Guillo, o procedimento é a única saída. “É uma seca inédita e a indicação é que se agrave em 2016. Sem as reduções que já ocorreram, o reservatório de Sobradinho estaria seco”. Entidades que representam as populações ribeirinhas também são contra a diminuição em 100 m³/s na vazão do rio. “Mesmo com a vazão menor, o uso excessivo da água e o desmatamento devem continuar ou aumentar. Vamos sofrer mais com falta de abastecimento e poluição”, contou o coordenador da câmara consultiva regional do médio São Francisco, Cláudio Pereira, integrante da Associação dos Quilombolas da Lagoa das Piranhas.