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Microcefalia é usada em ataques preconceituosos contra nordestinos

13 novembro 2015 | 17:13

A maioria dos posts, pelo Twitter, também associa a doença ao fato do Nordeste liderar o número de eleitores do Partido dos Trabalhadores (PT). Foto: Reprodução

A maioria dos posts, pelo Twitter, também associa a doença ao fato do Nordeste liderar o número de eleitores do Partido dos Trabalhadores (PT). Foto: Reprodução

Um dia após o Ministério da Saúde decretar estado de emergência sanitária nacional diante do aumento no número de casos de microcefalia em Pernambuco, as redes sociais foram utilizadas como ferramenta de expressão de comentários preconceituosos contra os nordestinos. Até o momento, foram notificados 141 casos no estado da anomalia congênita que tem como característica o perímetro encefálico menor que o normal para a idade. Sintoma que foi ridicularizado nas postagens: “O pessoal sacaneou tanto cabeça de nordestino que agora os bebês de lá tão nascendo tudo com microcefalia”, diz uma das mensagens. A maioria dos posts, pelo Twitter, também associa a doença ao fato do Nordeste liderar o número de eleitores do Partido dos Trabalhadores (PT). Confira alguns deles:

Foto: Reprodução

“As drogas causam microcefalia… Pernambuco é campeão no consumo de crack e votos no PT. Caso resolvido. Próximo”
“É campeão!!Nordestina ganha bolsa família, compra crack, engravida, a criança nasce com microcefalia e vira eleitor do PT”
“Tá explicado o motivo que o Nordeste e o Norte são berço do PT!!! Tem que investigar melhor os nascidos de 1970”
As atitudes podem configurar crime de racismo, tipificado no artigo 20 das lei 7716, de 1989, que prevê pena de dois a cinco anos de reclusão mais multa. O crime é imprescritível e inafiançável e também fere o princípio constitucional da dignidade da pessoa humana. Em dezembro de 2011, depois das polêmicas declarações da estudante gaúcha Sophia Fernandes, 18 anos, sobre os nordestinos, a Ordem dos Advogados do Brasil em Pernambuco (OAB-PE) enviou, uma notícia-crime ao Ministério Público. Federal do Rio Grande do Sul e pediu investigações sobre o caso à Polícia Federal (PF). A jovem teria postado em página pessoal do microblog Twitter mensagens que caracterizam o crime de racismo. Entre as frases postadas pela jovem estão algumas como “o twitter está virando vaso sanitário. Oi macacos – nordestinos – piauienses, cearenses. Sai do Twitter e vai cortar tua cana para comprar teu arroz, nordestino. Tem que usar câmara de gás para matar teu povo. O Nordestino é a própria sujeira (sic)”.
Ódio, rancor ou ignorância? O que leva um internauta a postar comentários preconceituosos endereçados aos nordestinos? Questionada sobre a atitudes como estas, a socióloga e professora do Departamento de Ciências Sociais da UFPE Maria Eduarda Rocha afirmou na época que várias são as respostas para essas questões. “Primeiramente, devemos entender que o preconceito contra os nordestinos é uma discriminação de classes sociais. Isso porque o Nordeste foi um grande fornecedor de mão de obra, desde o ciclo da borracha até a industrialização. Assim, as pessoas veem os nordestinos como inferiores, pois, historicamente, os nordestinos ocuparam postos tidos como subalternos”. A lei 7716/89 – Define os crimes resultantes de preconceitos de raça ou de cor.
Para a legislação, racismo é praticar, induzir ou incitar, pelos meios de comunicação social ou por publicação de qualquer natureza, a discriminação ou preconceito de raça, cor, religião, etnia ou procedência nacional. A pena de reclusão é de dois a cinco anos e pagamento de multa.