por Fernando Duarte
O retorno das medidas restritivas na Bahia não deveria ser necessário. Porém, em meio ao número crescente de novos casos de Covid-19, acompanhado pelo aumento do número de óbitos, foi uma alternativa menos danosa do que o fechamento de atividades não essenciais, como chegou a sugerir o governador Rui Costa em entrevista nesta terça-feira (16), antes de confirmar o recolhimento da população entre 22h e 5h durante 7 dias.
Há uma dosagem dos efeitos políticos da restrição. Com parte dos prefeitos ainda no início do mandato, seria muito difícil deixar os gestores dos municípios responsáveis por adotarem um toque de recolher. Ainda em lua de mel com os eleitores, nenhum chefe de Executivo municipal iria apostar que medidas duras encerrariam esse clima menos de dois meses após tomarem posse. Mesmo os reeleitos, seria difícil lidar com as consequências políticas de uma decisão que diverge dos interesses de uma parcela expressiva da população.
Por isso coube a Rui, um governador bem avaliado na reta final do mandato, contrariar um movimento de desgaste contra as medidas restritivas de combate à pandemia. O peso político é maior e os eventuais impactos negativos acabam diluídos pela forma como o petista enfrentou a doença – ainda que isso custe arranhões com setores produtivos que venham a ser atingidos pela medida.
Os dados da pandemia seguem assustadores. Mesmo com o aumento do número de leitos, os índices de ocupação continuam altos e a quantidade de casos ativos retornou a patamares das fases mais críticas da doença. Portanto, era natural que algum tipo de medida restritiva fosse adotada, para tentar conter o avanço do coronavírus.
Até mesmo por razões pedagógicas, já que os alertas de que a crise é iminente não estão funcionando. Infelizmente, o desgaste com o distanciamento social não colabora com a conscientização da população.
Somada a tudo isso temos a lentidão do plano de vacinação, resultado da dificuldade imposta pelo governo federal na aquisição de imunizantes. Enquanto outras nações enfrentam problemas de logística para aplicação, no Brasil a grande questão é a ausência de doses. Mesmo que haja um esforço fenomenal de aliados do Palácio do Planalto para usar malabarismos retóricos e culpar governadores e prefeitos pela crise sanitária.
Ninguém está satisfeito com o momento da pandemia, tratado como um dos mais delicados vividos desde março de 2020, quando a Covid-19 passou a dominar o dia a dia dos baianos. O toque de recolher é um paliativo em meio a uma possível demanda por restrições de atividades econômicas. Dos males, então, é melhor escolher o menos pior.