Em sua fracassada tentativa de fechar um acordo de delação na Lava Jato, o ex-deputado Eduardo Cunha (MDB-RJ), que está preso há três anos, atribuiu irregularidades a cerca de 120 políticos e disse ter arrecadado R$ 270 milhões em um período de cinco anos para repartir com correligionários e aliados, sendo 70% via caixa dois. A informação foi revelada nesta quinta-feira (26) em reportagem da Folha, em parceria com o site The Intercept Brasil,
Segundo a publicação, Cunha entregou sua proposta de delação a procuradores em meados de 2017, mas seus relatos foram considerados pelos investigadores superficiais demais, e não houve acordo.
Um dos documentos com a proposta foi compartilhado entre procuradores que discutiam a possibilidade de delação em um chat do aplicativo Telegram, em julho de 2017. O arquivo faz parte do material enviado por fonte anônima ao site The Intercept Brasil e analisado pelo site e pela Folha.
Nos mais de cem capítulos de sua proposta de delação, Cunha dá sua versão para a formação de um grupo de dezenas de deputados que o elegeu para o comando da Casa em 2015 e descreve como angariou gradualmente influência dentro do então PMDB (hoje MDB), liderado por Michel Temer, que assumiria a Presidência da República em 2016.
De acordo com a publicações, Temer está entre um dos principais alvos dos relatos, assim como o ex-ministro Moreira Franco (MDB) e o ex-governador fluminense Anthony Garotinho (sem partido).
Naquela função, relatou o ex-deputado, passou a gerenciar a distribuição de cargos no governo Lula e no Congresso, além da arrecadação para campanhas eleitorais.
“Com isso, o colaborador [Cunha] passou a ser o centro de gravidade de todos que precisavam de ajuda financeira, o que, obviamente, criou certa dependência dos demais membros da bancada.”
Conforme a reportagem, em consequência, aliados passaram a atender seus pedidos de apresentar emendas e requerimentos de seu interesse. Mais influente no MDB, disse que passou a atuar pela unificação do partido no Congresso em consonância com Temer. Afirma que o correligionário, no comando nacional da sigla, preparava a reeleição de vários deputados e a função de Cunha era “viabilizar a ajuda financeira” das campanhas.
No primeiro mandato de Dilma Rousseff, ampliou sua força nos bastidores até a formação de um “blocão”, parlamentares de outros partidos além do MDB, o que serviria de base para sua eleição ao comando da Câmara, em 2015, e para os quais também atuou na arrecadação de recursos.
A maior parte dos políticos mencionados na proposta de delação é relacionada a essa articulação, em 2014. Disse ter arrecadado R$ 148,6 milhões naquele ano, repassados a mais de 60 deputados. As fontes listadas desses recursos são empreiteiras, como a Odebrecht, “empresas de ônibus”, “montadoras de veículos”, a JBS, além de doações oficiais de bancos. São mencionadas como contrapartida aprovações de medidas de interesse desses grupos no Congresso.
Cunha, em capítulos de sua delação, relata brevemente ainda entregas de dinheiro a emissários seus ou de colegas deputados.