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Jovem com paralisia cerebral quebra preconceitos e se forma em Química pela Uece

17 janeiro 2016 | 9:21

O novo químico pousa para foto com a mãe. (Foto: Arquivo Pessoal).

O novo químico pousa para foto com a mãe. (Foto: Arquivo Pessoal).

Era dezembro de 1990, Neuma Alexandrino Loiola, cearense natural de Tauá, esperava ansiosa o seu primeiro filho. Calebe Alexandrino Veríssimo nasceu no dia 19 daquele mês, com três quilos e meio, e uma diferença: o garoto foi diagnosticado com paralisia cerebral. Diferença que os pais garantem ser também a única. “Desde pequeno sempre foi tratado normalmente, e o estimulamos para que tenha uma vida independente”, conta Neuma. Calebe cresceu e venceu: em 16 de dezembro de 2015, 2 dias antes do seu aniversário e 23 anos após o seu diagnóstico, o jovem conquistou o título de licenciatura em Química pelo Centro de Educação, Ciências e Tecnologia da Região dos Inhamuns (Cecitec), unidade acadêmica da Uece em Tauá. Durante o parto, Calebe teve falta de oxigenação no cérebro, o que lhe causou restrições na fala, na escrita e na locomoção, mas não em seu intelecto. Pelo contrário, ele aprendeu a ler tão cedo quanto a maioria dos meninos da sua idade, e esse foi apenas a primeiro passo. “Ele frequentou escolas normais, e em toda sua vida nunca ficou de recuperação!” diz orgulhosa Neuma, que conta que a paixão de Calebe por cálculos também se repete no seu filho mais novo, Filipe Alexandrino Veríssimo. A unidade da Uece em Tauá atende 3 cursos: Química, Biologia e Pedagogia. O curso de exatas foi a escolha do jovem, que ingressou na faculdade aos 18 anos. Cumprindo o período regular de 4 anos e meio, ele se formou com louvor, sendo um aluno acima da sua deficiência, como descreve o professor e diretor do Cecitec, João Batista. “Ele sempre foi um aluno excelente, tirava notas acima da média, nunca faltou uma aula e estava sempre sorridente”.

Durante o curso, o jovem químico também foi bolsista do Programa Pibid (Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência), sendo monitor, onde visitava as escolas do ensino médio da cidade e fazia participação dos shows de química com peças teatrais. A mãe de Calebe relembra que, até os 6 anos de idade, o garoto teve o acompanhamento de profissionais de saúde, como fisioterapeuta e terapeuta ocupacional, e até foi ao Hospital Sarah Kubitschek, em Brasília, em busca de orientações para o tratamento de Calebe. Contudo, ela aponta que a fé em Deus e o apoio da família foram essenciais formação do filho. “A família tem que perceber que uma criança com esse tipo de problema pode ter uma vida normal. O Calebe, por exemplo, é saudável e não toma nenhum tipo de medicação. O estímulo começa em casa. Falta motivação, os próprios pais têm preconceito e não acreditam no potencial do filho. Tem que acreditar que eles podem. Eles têm suas dificuldades, mas também algo especial que deve ser explorado”. Além da participação do pai Valdônio, da sua avó Laurinda e dos professores, tanto no colégio quanto na faculdade, Calebe também contou com o apoio dos colegas. “Ele não tem muita coordenação motora para escrever, alguns professores aplicavam uma prova oral, ou na maioria das vezes ele fazia prova escrita, igual aos outros. A diferença é que ele ditava a questão e a pessoa escrevia. Ele nunca foi diferenciado, o estilo da prova é o mesmo, prova escrita ou oral”, garante o diretor do Centro. No curso, ele conheceu Jérica, uma amiga que também o ajudou, quando copiava para ele as atividades e anotações feitas pelos professores. Quanto aos planos para o futuro, Calebe pretende seguir em frente e fazer especialização ou mestrado. “Ele é um exemplo de superação, e que não há limites para quem quer sonhar em ser alguém”, conclui o professor João Batista. E o novo químico também manda um recado: “As pessoas não devem desistir dos seus sonhos”.