A Polícia Federal, por meio da quebra de sigilo das comunicações do tenente-coronel Mauro Cid, interceptou conversas entre o ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e assessoras no seu governo. O conteúdo da conversa revela uma orientação para pagamento em dinheiro vivo das despesas da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro. As informações são do colunista Aguirre Talento, do portal Uol.
Conforme o colunista, as investigações da PF chegaram a indícios da existência de uma “dinâmica sobre os depósitos em dinheiro para as contas de terceiros e a orientação de não deixar registros e impossibilidades de transferências”.
Segundo revelam as análises do órgão federal, a esposa de Bolsonaro usava um cartão de crédito vinculado à conta de uma amiga, Rosimary Cardoso Cordeiro, que era assessora parlamentar no Senado. Ao realizar quebras de sigilo bancário de Mauro Cid e outros funcionários do Planalto, a PF detectou depósitos em dinheiro vivo para Rosimary com o objetivo de custear as despesas com o cartão de crédito, tentando ocultar a origem dos recursos.
Nas conversas obtidas pelo Uol, uma das assessoras preocupada com a situação, cogitou conversar com a ex-primeira-dama e convencê-la a fazer o próprio cartão de crédito para realizar as suas transações.
“Então hoje é essa situação do cartão realmente é um pouco preocupante. O que eu sugiro para você é o seguinte. No momento que você for despachar com ela, é esse assunto. Você pode falar com ela assim sutilmente, né? […] Mas eu acho que você poderia falar assim: dona Michelle, que é que a senhora acha da gente fazer um cartão para a senhora? Um cartão independente da Caixa.
Pra evitar que a gente fique na dependência da Rosy. E aí a gente pode controlar melhor aqui as contas. […] Pode alertá-las o seguinte, que isso pode dar problema futuramente, se algum dia, Deus o livre, a imprensa descobre que ela é dependente da Rose, pode gerar algum problema”, falou Cintia Borba, em áudio enviado a Giselli Carneiro, também assessora parlamentar, no dia 30 de outubro de 2020.
Giselli Carneiro também mandou mensagem para Cid falando sobre o assunto, quase um mês após ter a conversa acima com sua colega Cintia Borba. Em áudio enviado para o militar, Carneiro apontou a existência da conversa com Michelle, contudo, sem resposta sobre a possibilidade de fazer o seu próprio cartão.
“Coronel, bom dia. Ontem eu conversei com a senhora Adriana para saber se ela tinha falado com a dona Michelle né. Ela falou que conversou. Explicou, falou todos os problemas, preocupações, né. (…). Mas então o resultado foi que a dona Michelle ficou pensativa. Segundo a dona Adriana, ficou pensativa, mas que vai continuar com o cartão.
E ela falou que tem, tem os comprovantes assim, né? Que esse cartão já era bem antes do presidente ser eleito. Mas de qualquer maneira, a dona Adriana falou que ela ficou pensativa, né? Ontem mesmo já fizemos uma compra, mas foi em outro cartão. Então eu estou vendo que realmente tá sendo de pouco uso o da Caixa. Mas por enquanto é isso. Obrigada, tchau”, disse Carneiro ao ex-ajudante de ordens, no dia 25 de novembro de 2020.
Em resposta, Cid alertou Carneiro e disse que a situação dos gastos de Michelle poderia ser alvo de investigações. No momento, ele chegou a comparar com a situação do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), à época deputado federal, quando foi denunciado sob acusação de peculato pelo Ministério Público do Rio.Leia mais
“Giselle, mas ainda não é o ideal isso não, tá? O Cordeiro conversou com ela, tá, também. E ela ficou com a pulga atrás da orelha mesmo: tá, é? É. É a mesma coisa do Flávio. O problema não é quando! É como deputado, rachadinha, essas coisas”, afirmou o homem de confiança do ex-presidente, em áudio enviado a Giselle, no dia 25 de novembro de 2020.
Homem de confiança do ex-presidente, Cid foi preso no último dia 3 de maio, durante operação da PF que apurava falsificação de cartões de vacinação contra a Covid-19.